sábado, 19 de junho de 2010

- Porque todas as analogias são sempre sobre cerveja e sexo, Hank?

– Cala a boca e leia essa porra, pode fazer sentido, diabos!

Às vezes as coisas são apenas o que parecem ser. Não existe nada mais profundo escondido em camadas e mais camadas de proteção. Nada reprimido querendo aflorar. Nada mesmo, porra nenhuma. É como enxugar uma lata de cerveja vazia, esperando que saia magicamente alguma coisa para saciar sua sede.  Está vazia e é isso, não vai rolar. Expectativa versus realidade à eterna briga entre David e Golias. A batalha final entre tudo que é de fato real e aquelas merdinhas bacanas que intimamente esperamos que aconteça, apenas por acontecer, mas que nunca racionalizamos de fato. Pois nessas horas não precisamos de uma explicação plausível sobre os fatos e o que importa são somente os nossos anseios e desejos secretos prestes a se concretizarem fantasiosamente. Dane-se a explicação técnica do tipo, como seria possível à cerveja brotar do nada numa lata vazia? Quem liga pra isso? A verdade é que seria ótimo, mas caíam na real: milagres não existem e se você quer uma maldita cerveja gelada, é bom que vá buscar uma nova na geladeira, seus malditos bastardos. 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Enganem-me, por favor.


Existem algumas explicações, mesmo que muito mirabolantes, que ainda não fazem sentido da minha cabeça. Não que alguma coisa já tenha feito até hoje, mas essa em especial está martelando sem parar aqui dentro da minha cachola e eu estou ávido por respostas.  Nem que sejam as mais cretinas e furadas, mas preciso de algo para enganar-me provisoriamente e ter um pouco de paz de espírito. É como a história das cegonhas que carregam os bebês pelo bico e os trazem voando para que os pais possam criar. Esse papo é batido e sempre é contado quando os adultos são questionados pelas crianças sobre o assunto. Rola um desespero, a mãe joga a batata quente para o pai que devolve para a mãe e como na maioria das vezes eles não sabem como agir, por vergonha ou preguiça mesmo, apelam para essa explicação furreca. É verdade? Claro que não é, mas elas aceitam o engodo temporário até completarem idade suficiente para entenderem a realidade cruel do sexo.  A mentira empurra com a barriga a questão e ganha um pouco de tempo até os fedelhos se tornarem emocionalmente maduros para aceitarem a realidade.  Quando isso acontece, alguém vem calmamente contar o que diabos tá rolando de fato. O amor, seguindo essa linha de raciocínio, é tão absurdo quanto uma cegonha voar entre as nuvens com uma criança presa no bico, mas ainda não estou preparado para ouvir a verdade. Eu preciso desse romantismo tolo como norte nas minhas relações. Não me sinto grandinho o suficiente para a verdade, seja ela qual for. Então me enganem, por favor, pois eu preciso de mais tempo.


terça-feira, 11 de maio de 2010

A vilania e outras vantagens.


Tenho escutado com relativa frequência as pessoas dizendo que sentem-se atraídas por pessoas más. É muito complicado definir isso. Eu bebo, fumo, adoro trepar, não levanto bandeira de partido político nenhum, sou um maldito ateu e tranquei qualquer ideal na gaveta de meias. Pelo visto isso me torna um cara ruim. Se formos fazer uma comparação com os sujeitos de hoje em dia, talvez eu realmente seja. A grande maioria são idiotas que ainda moram com a mãe, não sabem preparar uma refeição simples e nem ao menos são capazes de lavar as suas próprias cuecas. São amantes medíocres limitados intelectualmente, verdadeiros boçais excitados com carros zeros, empregos cretinos e algum esporte babaca na televisão. Mas ainda sim, por mais assustador que isso possa parecer, conseguem se passar por príncipes encantados aos olhos das mulheres, que bobas acabam se aventurando em relacionamentos disfuncionais embaladas por sonhos juvenis. E está talvez seja a grande questão. Enquanto procurarem culpados apontando seus dedos inquisitórios para tudo e todos. Ditando regras, padrões e modelos comportamentais pré-estabelecidos como cartilha a ser seguida, criando dessa forma vilões sociais para destacar pseudo-heróis, com as suas cuecas lavadas pela mamãe sobre as calças. Caras maus com eu ainda vão viver a margem da sociedade sim, e vamos continuar habitando o imaginário molhado das suas jovens donzelinhas. E eu duvido muito que elas queiram ser salvas desse tipo de apuro. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dono do inferno.


Sejam todos muito bem vindos ao meu inferno particular. De tanto me ferrar resolvi procurar abrigo por aqui e ganhar um pouco de fôlego. Queria jogar alguns pratos no chão e não ter obrigação de colar os caquinhos. Não me pergunte que dia é hoje, não tenho mais obrigação com essa merda de tempo. Sou alcoólatra, destruidor de louças, um anarquista filho da puta que escreve, rosna, persegue incansavelmente os idiotas e declama poesias em escadas rolantes. Estupro as ideias mais originais gozando da minha própria criatividade. Meu passado é de vilão, não tenho honra, futuro e só gosto de frutas maduras, mas se tratando de mulheres só como as novinhas. Sei que um dia vou morrer, não estou ansioso, mas também não vou espernear quando a hora chegar. Quem sabe o que faz não perde tempo se lamentando. Então quando chegar aqui lembre-se que o inferno já tem dono e não é o diabo. 

Para sempre na esbórnia da saudade.

As minhas melhores lembranças são suas. Nós dois amanhecendo numa bebedeira inconsequente regada a conversas cretinas sobre sonhos delirantes. Dois idiotas românticos dando à cara a tapa para esse mundo de merda. Querendo destruir vidas sem razão, só por diversão, apenas para ter algo para rir e conspirar numa mesa de botequim. Como éramos tolos, como ainda somos tolos baby.
Andávamos pelas ruas cambaleando e cantando para um novo dia que raiava. Saudando mais uma nova ressaca, que insistente nos perseguia sem dó, atraída pelo bafo de álcool dos nossos arrotos mais barulhentos. Pulávamos muros perambulando atrás de novos caminhos, subindo e descendo calçadas improváveis na busca sem sentido por uma fuga mais poética.
Vomitávamos a vida pelas esquinas colocando as tripas para fora. Sentindo o gosto das nossas certezas mais amargas. Poças de desilusões pelo chão. Às vezes era impossível contorna-las e pisávamos firme espalhando toda merda pela vida. Vivíamos de paixão sem sentido e alguns trocados amassados nos bolsos do casaco. Dinheiro de bêbado tentando subornar um coração para bater mais rápido.
Mas não foi o suficiente e ele desacelerou até finalmente parar. Contagem regressiva cruel. Quem poderia imaginar que você encararia isso com a cabeça tão erguida?  Homens mais valentes borraram as calças, mas você não, você não colocaria tudo a perder assim no final. Saltou do precipício como quem mata o último gole de uísque. Bebeu tudo de uma vez e me deixou só com a saudade.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Voyer.


Um arroto corta o ar e faz um estrondo que poderia tranquilamente ser comparado a um rugido de leão. Sabe aqueles de caminhoneiro que vem depois de um belo prato de mocotó seguido de uma cerveja? O sujeito colocou todos os seus demônios para fora pela porta da frente e ainda conseguiu acordar metade da vizinhança. Sua mulher lhe cutucou de leve, murmurou alguma coisa mas logo voltou a dormir.
Algumas quadras dali, um cara levava três tiros no peito, pois não quis passar a carteira. Morreu agonizando num urro desumano, bem ao lado de um mendigo que pouco pode fazer, mas que até gostou da companhia. Era uma noite fria e aquele bebê que foi deixado na porta de um estranho, sentia isso na pele. Sua mãe essa altura do campeonato está dentro de um ônibus fugindo para alguma cidadezinha litorânea com o marido de outra e simplesmente se desfez do peso extra. Mulheres sendo estupradas em becos escuros por tiras corruptos, pessoas roubando para satisfazer a própria fome. Era mais uma noite, apenas mais uma maldita noite de inverno e eu só podia escrever. Beber, fumar e escrever. Apenas mais um refém a mercê dos caprichos da escuridão. Às vezes encarava tudo como um repórter policial, mas era pura ficção. A vida está cada dia mais crua e cruel que as minhas sujeiras se aproximam da realidade de uma forma nojenta. Um dia ainda engataria um livro infantil com mágicos e seres sobrenaturais carismáticos e escaparia de toda essa merda. Olhar pela janela buscando esse tipo de inspiração estava acabando comigo. Dei um soco no vidro da janela em um momento de explosão e o sangue misturou-se com pequenos estilhaços de vidro. Uma rajada de vento entrou e anestesiou um pouco a dor. Ascendi um cigarro e sentei no chão. Olhei alguns instantes a mão cortada, apenas isso e cheguei à conclusão que cada corte era uma daquelas injustiças pela noite afora. Fui arrancando cada pequeno caco cravado na pele, como se ajudasse uma daquelas pessoas. Quanto mais tirava mais sangue jorrava e ao fazer isso o cigarro manchou. Algumas cicatrizes não são nossas, mas mesmo assim são gravadas simbolicamente como brasa quente na nossa pele e não existe nada que se possa fazer a respeito. Eu sorria e fumava, repetindo pra mim mesmo que era só mais uma noite, apenas isso.


Girando, girando e girando.


Diabos – praguejei ao acordar. Simplesmente abri os olhos e despertei em mais um dia alucinante. O teto girava ou era a cama? Estiquei o braço e tentei agarrar-me no criado mudo. Alguém já tentou fazê-lo confessar algo? O meu é confiável. Tudo que ele já escutou a meu respeito, meus intermináveis resmungos, pesadelos e ressacas e a toda a rotatividade da minha cama sempre morreram ali.  Mas dessa vez ele não foi muito útil, mesmo segurando-o firme, nada parou de rodar.
A vida girando numa alcoolizada roda gigante. Levantei lentamente e cai como um saco de batatas. Pausa forçada para o cigarro. Lá estava eu, encolhido no corredor que interligava o quarto com a cozinha e muito distante do meu objetivo primário: algo gelado para deslizar pela garganta e de preferência uma cerveja. Ascendi e traguei o cigarro naquele gira mundo angustiante e me pus a olhar os quadros pela parede. Pinturas de quinta categoria girando em óleo e telas baratas.
Ainda estava com as roupas da véspera, meu bafo era podre e tudo cheirava a fumaça e álcool. Que merda eu fiz ontem à noite? De onde eu tirei esses quadros terríveis? Puxei pela memória e me veio na cabeça à figura de um artista que não tinha os dois braços. Comprei algumas obras dele por alguns trocados. O coitado estava morrendo de fome. Nunca pensei em como ele pintava essas merdas. Olhei mais uma vez para o corredor e chegar até a cozinha era como o caminho de Santiago de Compostela. Será que ele segurava o pincel com a boca ou usava o próprio pau? Minhas ideias absurdas giravam imaginativamente.
Foi quando me apoiei com os braços esticados um em cada parede, o corredor era estreito, perfeito como muleta para bêbados zonzos. Ergui-me e caminhei da forma mais digna possível até a maldita geladeira. Abri e a luz quase me cegou. Quando finalmente meus olhos acostumaram com a claridade tive uma surpresa, estava abarrotada: duas garrafas de cerveja, um tomate, duas cebolas e um pimentão. Talvez eu faça um molho quando melhorar. Enfim peguei a cerveja. Abri e dei um grande gole, a sacana desceu gelada pela garganta e tudo girou pela última vez.
Apaguei sentado por ali mesmo, com a porta da geladeira aberta, escorando a cabeça na gaveta dos hortifrutigranjeiros. Acordei quatro horas depois e tudo parecia bem, nada mais girava e o enjoou havia sumido. Mas quem se importa afinal? A maldita cerveja estava quente, diabos.