quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Para sempre na esbórnia da saudade.

As minhas melhores lembranças são suas. Nós dois amanhecendo numa bebedeira inconsequente regada a conversas cretinas sobre sonhos delirantes. Dois idiotas românticos dando à cara a tapa para esse mundo de merda. Querendo destruir vidas sem razão, só por diversão, apenas para ter algo para rir e conspirar numa mesa de botequim. Como éramos tolos, como ainda somos tolos baby.
Andávamos pelas ruas cambaleando e cantando para um novo dia que raiava. Saudando mais uma nova ressaca, que insistente nos perseguia sem dó, atraída pelo bafo de álcool dos nossos arrotos mais barulhentos. Pulávamos muros perambulando atrás de novos caminhos, subindo e descendo calçadas improváveis na busca sem sentido por uma fuga mais poética.
Vomitávamos a vida pelas esquinas colocando as tripas para fora. Sentindo o gosto das nossas certezas mais amargas. Poças de desilusões pelo chão. Às vezes era impossível contorna-las e pisávamos firme espalhando toda merda pela vida. Vivíamos de paixão sem sentido e alguns trocados amassados nos bolsos do casaco. Dinheiro de bêbado tentando subornar um coração para bater mais rápido.
Mas não foi o suficiente e ele desacelerou até finalmente parar. Contagem regressiva cruel. Quem poderia imaginar que você encararia isso com a cabeça tão erguida?  Homens mais valentes borraram as calças, mas você não, você não colocaria tudo a perder assim no final. Saltou do precipício como quem mata o último gole de uísque. Bebeu tudo de uma vez e me deixou só com a saudade.

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