terça-feira, 29 de setembro de 2009

O vespertino cotidiano desesperador.


Encontrei alguns fios de cabelo branco. A cerveja e o cigarro estão acabando com a minha saúde. O exagero é um dos principais pilares do meu dia-a-dia e eu preciso dar um fim nisso. Aquele saco de boxe só tem balançado com o vento. Eu vivo chapado caindo por ai podre e fudido. Escrevo contos, poemas e crônicas cretinas para pagar o aluguel e encher o cu de dinheiro, mas não consigo achar sentido nisso. É sempre legal quando sobra algum tempo para brincar de escritor de verdade e nesses raros momentos, me tranco no quarto, coloco a vitrola para rodar Stones e dou um amasso na minha velha máquina de escrever. Cato milho legal enquanto fumo, bebo e extravaso toda a química podre que a vida injeta nas minhas veias sem permissão.  Vez ou outra me arrisco cantar alguns trechos com Mick e quando percebo lá estou eu solando com o velho Keith. Escrevo tudo na primeira pessoa, gosto de dar para os leitores uma perspectiva real sobre alguém que não tem perspectiva nenhuma. Passo o tempo todo com a camisa aberta e quando estou em casa me livro das calças, apenas cuecas. Normalmente mal barbeado, alimentado e dormido. Deixo o telefone fora do gancho para não interromperem a minha frágil inspiração. Detesto telefones de qualquer tipo ou espécie. Quem diabos quer ser encontrado? Eu quero é me perder e é na máquina de escrever que está a minha fuga. Quando meu cérebro já não assimila mais porra nenhuma e a ponta dos dedos começam a ficar em carne viva, paro e curto a música. Nunca vou para a cama antes de amanhecer mesmo gostando muito do blackout. Queria conseguir dormir mais, mas me parece tão inútil. O mundo segue girando e o velho Hank babando e roncando? Prefiro fazer isso acordado e com olheiras charmosas. Sempre gostei desses paradoxos que envolvem a decadência e toda a atração que ela exerce.  
Hoje eu levantei da cama, estava deitado apenas para descansar o corpo, pois o sono era indiferente ao meu estado crítico. Fui até o banheiro vagarosamente repensando seriamente essa teoria estúpida de paradoxo do caralho. Creme para barbear na escova de dente e creme dental no rosto – Desisto porra. Lavo o rosto e o enxugo numa toalha quase limpa. Sigo para a cozinha em busca de algo agradável para colocar na boca. Será que tem buceta na minha geladeira? Chaleira, fogão, geladeira, completa ausência de alimentos, desespero momentâneo, café e muitos bocejos. Uma reação em cadeia deles. Nisso coloco novamente o telefone no gancho, enquanto fumo e bebo o meu café requentado. O telefone chora. Atendo sem nenhum sinal de boa vontade.
- Sim...
- Aqui é Charlie.
- Fala pequeno buldoguezinho, o que manda?
- Precisamos daquele roteiro Hank.
- O, Charlie, vai-te foder. Bato o telefone e espero alguns segundos, me divertindo com o desespero que ele deve estar sentindo no outro lado da linha. Trago algumas vezes o cigarro e o telefone volta a tocar.
- Fala porra!
- Por favor, não bata essa merda na minha cara Hank. Escuta-me um instante. Eu preciso desse roteiro pronto seu filho da puta.
- Sabe – eu disse -, é em ocasiões como esta, em que estou com bloqueio criativo e sendo obrigado a escrever um roteiro cinematográfico escroto por um sujeito careca que se masturba vendo qualquer coisa, até mesmo Animal Planet, que realmente lamento não ter escutado o que a mamãe me dizia quando eu era garoto.
- Por quê? O que ela dizia?
- Não sei. Eu nunca escutei.
- Ah. Vai tomar no cu Han... tu, tu, tu, tu, tu...

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